sexta-feira, 25 de junho de 2010

Docente Reflexiva...

Uma das exigências desta formação era que fossemos professores reflexivos!


"Há momentos na vida em que a questão de saber se alguém pode pensar de um modo diferente de como pensa e sentir de um modo diferente de como sente é indispensável para continuar observando e reflectindo".
M. Foulcault


Actualmente é consensual a ideia de que o professor deve ter uma atitude reflexiva sobre a sua própria prática, na expectativa de que a reflexão será um instrumento de desenvolvimento do pensamento e da acção. A reflexão constitui, então, um factor que influencia e determina a prática de ensino. Verifica-se que os professores possuem teorias sobre o que é o ensino. Estas teorias, que influenciam a forma como pensam e actuam na sala de aula, permanecem muitas vezes inconscientes para os próprios professores.
Dewey (1989) enumera 3 atitudes que definem um ensino reflexivo.
A primeira atitude necessária é a mentalidade aberta, que obriga a escutar e respeitar diferentes perspectivas, a prestar atenção às alternativas disponíveis, a indagar sobre as possibilidades de erro, a examinar as razões do que se passa na sala de aula, a procurar várias respostas para a mesma pergunta, a reflectir sobre a forma de melhorar o que já existe, etc.
A segunda atitude consiste na responsabilidade, tratando-se sobretudo de responsabilidade intelectual, que significa considerar as consequências de um passo projectado e assumir essas consequências quando decorram de qualquer posição previamente assumida. Esta atitude assegura a integridade, isto é, a coerência e a harmonia daquilo que se defende.
A última atitude a que se refere Dewey é o entusiasmo, descrito como a predisposição para enfrentar a actividade com curiosidade, energia, capacidade de renovação e de luta contra a rotina.
Estas atitudes revelaram-se importantes nesta de formação, tendo sido propostas actividades de reflexão e análise, que implicavam a aquisição e desenvolvimento de um pensamento e de uma prática reflexivas.
Esta forma de reflexão, que passa necessariamente pela indagação, permitiu-me analisar a minha prática, identificando estratégias para a melhorar. Neste sentido, introduziu um compromisso de mudança e de aperfeiçoamento à luz do conhecimento sobre o documento que justificou a realização desta formação, o Novo Programa de Português para o Ensino Básico.
Reconheço que enquanto professora torno-me mais atenta à necessidade de revisão e melhoria da minha prática, quando estou integrado em actividades que implicam a análise e a observação de meu próprio perfil e das características de meu trabalho. O processo de reflexão e discussão sobre a prática foi importante para perceber algumas mudanças como uma necessidade individual, atendendo às orientações do novo Programa.


"Deves ter serenidade para aceitares as coisas que não podes mudar, coragem para mudares aquilo de que és capaz e sabedoria para veres a diferença."
Sócrates

REFLEXÃO - Módulo IV


Nesta reflexão pretendo fazer o enquadramento da informação recebida e relacioná-la com a minha actividade docente, podendo referir alguns aspectos que se foram modificando nas minhas práticas educativas. Assim, procurei encontrar uma linha de aprofundamento de ideias exploradas nas sessões presenciais e nas leituras relacionadas com os temas aí explorados, numa perspectiva de perceber as implicações na minha prática, no sentido de a recontextualizar à luz das orientações do Novo Programa.

A ESCRITA

Retive a ideia de que há um espaço que medeia entre o que sinto, o que quero escrever e o que acabo por escrever! Tal fez-me reflectir, pois já tinha pensado que muitas vezes a escrita não consegue acompanhar o nosso pensamento e que é difícil por vezes escrever o que realmente pensamos ou sentimos…

Nesta formação lancei o tema para debate no Fórum “Dificuldades dos alunos na produção de textos” procurando partilhar com os colegas algumas ideias no sentido de proporcionar aos alunos os contextos e condições mais adequados para que possam ESCREVER. Ficaram registadas muitas ideias sobre este tema: escrita com sentido, partir de temas do interesse dos alunos, criar contextos estimulantes, escrever com um objectivo (jornal, correspondência…), escrita livre, em oficina, motivação… todos concordamos que é necessário experimentar situações em que a escrita seja significativa para os alunos, utilizar diferentes recursos, diversificar estratégias…
Mas… na primeira sessão foi reafirmado que é realmente difícil escrever perante uma página em branco, buscar palavras… Apesar de já ter sentido esta dificuldade, nunca tinha reflectido muito sobre o facto de poder ser “partilhada” da forma como o escritor António Lobo Antunes a descreveu. Tinha a ideia de que, apesar de surgirem momentos de falta de inspiração, os escritores e poetas tinham uma relação fácil com a escrita, que escrever era um acto de prazer e nunca um momento quase “penoso” a que assistimos, por vezes, na escola…
Afinal, a Escrita é um processo complexo e esta abordagem na formação levou-me a procurar entender as dificuldades da escrita que atrás referi um cenário mais alargado, que nos remete para as concepções de escrita e sua evolução, para as dificuldades que os próprios professores experimentam, para a necessidade de reequacionar as minhas práticas... Percebo que, para além da procura de ideias para melhorar as propostas de actividades nas aulas, é necessário agora verificar se as minhas práticas estão na direcção do que se pretende. Analisar do ponto de vista do que faço e do que se espera que eu faça à luz do Novo Programa. Como a Escola e eu concebemos a escrita e como actuo…
Esta reflexão será necessariamente um processo que não se esgota neste momento mas que vai merecer um trabalho contínuo. Há medida que for trabalhando e conhecendo melhor o Novo Programa, torna-se inevitável comparar o que ele recomenda com a minha prática e fazer o meu percurso de aproximação às novas orientações. Não sendo um ponto de ruptura com o que fiz até agora relativamente à Escrita, reconheço que há vários aspectos que necessito repensar e que posso melhorar. Compreendi ainda que o Novo Programa vem reforçar as perspectivas que devemos ter e os cuidados necessários para desenvolver o processo de Escrita com os alunos, fundamentando as recomendações apresentadas.
Na realidade, em relação à Competência da Escrita, considero que o estudo/ trabalho que estamos a fazer sobre o Novo Programa constitui uma forma de alertar e promover a reflexão individual e colectiva no sentido de percebermos que há outras estratégias, que é possível descobrir outras formas de conduzir e levar os meus alunos onde quero… Nesta caminhada, antevejo necessariamente alterações, até porque a utilização do Novo Programa permite-nos aceder a informação aliada à Investigação, o que traz conhecimentos positivos a integrar nas nossas práticas. Tenho-me deparado com situações em que sinto que já fiz muito ou quase tudo como docente e a aprendizagem de algumas crianças continua a ser muito limitada. Nestes casos, espero que os contributos de outras Ciências nos possam ajudar a clarificar como a criança aprende… Acredito que o docente deve assumir a sua responsabilidade e procurar diferentes abordagens, mas há situações em que pode sentir-se “sozinho/perdido” se não conseguir enquadrar as suas crenças e acções no que nos dizem as outras Ciências e num contexto mais abrangente que envolve a relação professor-aluno. Esta noção de contexto alarga o âmbito onde se contemplam outras variáveis, o que sem ser com o intuito de atribuir “culpas”, nos pode ajudar a encontrar respostas…
Uma vez que se pretende trabalhar na mira do desenvolvimento de competências, foram exploradas algumas ideias nas sessões quanto à Escrita que, não constituindo propriamente grandes novidades, me fizeram reflectir. Assim, recordou-se que o aluno aprende a escrever, escrevendo, e que aprendizagem da escrita nunca está concluída…
Recordou-se ainda que a criança tem potencialidades e competências, cabendo ao professor ajudar a desenvolvê-las… Para tal, devemos Ensinar, isto é, fazer a ponte entre o conhecimento e o que a criança tem, tendo em conta a componente afectiva, motivacional…
Mas, vimos que Ensinar não é o mesmo que dar aulas e é um facto que no fim da minha aula nem todos aprenderam… Realmente se o aluno não aprendeu, eu não ensinei! Tenho esta consciência e na nossa reflexão entre pares concluímos nem sempre ser possível pôr em prática o ensino individualizado como seria necessário, tendo em conta as características específicas de cada aluno numa turma de 25!! Depois, alegámos dificuldades devido à diversidade de interesses dos alunos, à falta de motivação para a aprendizagem, especialmente da Escrita, e mesmo à falta de vontade de trabalhar que muitos demonstram…
Considero que os argumentos atrás referidos são pertinentes e difíceis de resolver, mas penso que o Novo Programas pode constituir uma chamada de atenção relativamente ao papel do professor e às suas possibilidades de intervenção perante este cenário. Assim, é atribuindo ao professor o papel de gestor Programa, o que lhe permite atender às características da turma na preparação da sua actividade (Anualização), e são apresentadas estratégias que assentam numa lógica processual, permitindo ao professor o acesso a um conjunto de informação que poderá usar para rentabilizar e melhorar a sua prática. Vão certamente continuar a haver de alunos que não conseguimos ENSINAR, mas com orientações renovadas e experimentando novos percursos, podemos aumentar a possibilidade de mais alunos efectivamente conseguirem APRENDER nas nossas aulas!!
È ainda reforçada a ideia de que a criança só aprende quando é significativo para ela, isto é, quando há relação com o que já existe, o que já sabe… Aqui evidencia-se a importância dos Resultados Esperados apresentados no Novo Programa, que orientam o professor quanto à planificação da etapa seguinte e dos Conhecimentos Prévios na construção de Sequências Didácticas.
Apesar de ter procurado diversificar o trabalho que tenho proposto nas minhas aulas quanto às actividades de Escrita, tenho consciência que posso fazer mais e encontrei no Novo Programa e no GIP da Escrita contributos e intenções de escrita variadas que porei certamente em prática. Em alguns casos, são melhorias do que já tenho feito, noutros encontro aspectos mais inovadores e sinto que o importante é mesmo ir experimentando e aprendendo. Penso que a intenção deste trabalho sobre o Novo Programa consiste em ficar com conhecimento significativo para o professor, para que este possa aplicar na sua acção… Cabe-me, a partir do que aprendi sobre os processos de escrita, gerir a informação e desenvolver a minha componente de auto-aprendizagem e auto-regulação.
Assim, ao planificar e organizar uma actividade para desenvolver a competência da Escrita, pretendo questionar se constitui uma proposta à luz do que preconiza o Novo Programa, se está faseada, se contempla a dimensão processual, se convoca outras competências? Terei em atenção que o professor deve acompanhar todo o processo… que para escrever os alunos têm que compreender para depois explicitar e usar… que não é fácil nem linear a transferência da regra estudada para a sua aplicação na prática… que devo propor situações de modo que os alunos necessitem usar as regras da Escrita para as resolver… que é importante criar momentos em que os alunos podem utilizar os seus conhecimentos a partir das necessidades e problemas que a Escrita coloca…
Para concluir, relativamente à importância dada às Etapas da Escrita, é para mim o aspecto que constitui um desafio pôr em prática já no próximo ano lectivo, até porque vou leccionar o 2º ano, e encaro isso como uma oportunidade de começar este percurso com crianças ainda numa fase inicial de produção escrita. Este ano lectivo, trabalhei com o 1º ano e os desafios foram outros… Mas, pela minha experiência em anos anteriores quanto à Produção de Textos, penso que dei menos atenção à etapa da “ Planificação” do que o peso que assume no Novo Programa e vários aspectos relacionados com a etapa da “Revisão” também poderão certamente ser melhorados…

(Continua na próxima mensagem)

REFLEXÃO - Módulo IV (cont.)


(Continuação da mensagem anterior)

Cabe ao professor construir cenários para os alunos aprenderem e desenvolverem as competências previstas. A Sequência Didáctica constitui então um cenário onde o aluno vai actuar e aprender.

Sequência Didáctica

A Sequência Didáctica surge como um conjunto de actividades de Ensino (o que o professor vai fazer) e de Aprendizagem (o que é suposto o aluno fazer a partir da actividade proposta pelo professor), partindo dos pré-requisitos /conhecimentos prévios dos alunos. São então propostas experiências articuladas entre si, organizadas de modo sistemático, voltadas para o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes.
As Sequências Didácticas são construídas num sentido de progressão e complexificação crescente, surgindo com uma forma de planificar na lógica das Competências e não dos Conteúdos, como tem sido tradicionalmente feito. Assim, as competências estão no centro do processo, havendo uma Competência Foco, que em determinada Sequência é privilegiada, e as Competências Associadas que auxiliam, de forma articulada, a Competência Foco. Promove-se, assim, o desenvolvimento integrado das diferentes competências, o que faz mais sentido para quem aprende. Deixamos ainda de ter as práticas focalizadas nos Conteúdos, passando estes a estar ao serviço das Competências.
Vimos que a Sequência Didáctica permite a interdisciplinaridade pois possibilita o desenvolvimento de competências de diferentes áreas e, no tratamento de um tema, os alunos podem recorrer a conhecimentos de outras áreas e ampliá-los. Considero que a interdisciplinaridade enquanto possibilidade de articulação das várias áreas, permite trabalhar o conhecimento globalmente, o que é muito importante, especialmente no 1º Ciclo em que trabalhamos em monodocência.
Numa primeira impressão, apeteceu-me dizer que “os professores já fazem isso, sem usar esse nome!” pois uma Sequência Didáctica, pode fazer lembrar algumas planificações preparadas sobre um Tema, a partir do qual a turma trabalhava num período de tempo, nas diferentes áreas, havendo normalmente um produto final… No entanto, admito que frequentemente o ponto de partida não eram as Competências, mas um Conteúdo Programático ou tema… Penso que só um tema gerador, trabalhado pela óptica de diferentes disciplinas não garante a interdisciplinaridade e o trabalho a partir das competências faz mais sentido. Assim, apesar de neste momento ainda ter dúvidas e achar que preciso aprender mais para poder construir e implementar Sequências Didácticas, entendi que apresentam desafios cada vez maiores aos alunos, permitindo a construção do conhecimento. Serão, então um desafio também para mim, enquanto professor!
Procurando reunir mais informação para me preparar para a tarefa que se avizinha na construção de Sequências Didácticas, é importante o registo de algumas ideias: esta é composta por várias etapas que incluem actividades de aprendizagem e avaliação, dando a dimensão do mais simples para o mais complexo; para construir uma Sequência Didáctica é necessário efectuar um levantamento prévio dos conhecimentos dos alunos e a partir desse planear uma série de aulas com desafios e/ou problemas, actividades diferenciadas, jogos… Gradualmente, deve-se aumentar o grau de dificuldade das tarefas propostas, permitindo um aprofundamento dos conhecimentos em simultâneo com o desenvolvimento das competências.
Uma das dificuldades que poderei sentir prende-se com a definição/previsão do tempo necessário para as etapas, até porque as turmas são bastante heterogéneas devido aos diferentes níveis, com crianças pequenas e ritmos distintos… O tempo deverá permitir a avaliação final e contínua do desempenho dos alunos, prevendo um “espaço” para as intervenções e correcções de rumo, quando necessário.
Concluo esta longa reflexão, reconhecendo que uma das minhas dificuldades da ESCRITA foi começar esta reflexão (página em branco!) mas, afinal, parece que também me estava a custar acabar!!!