sexta-feira, 25 de junho de 2010

REFLEXÃO - Módulo IV


Nesta reflexão pretendo fazer o enquadramento da informação recebida e relacioná-la com a minha actividade docente, podendo referir alguns aspectos que se foram modificando nas minhas práticas educativas. Assim, procurei encontrar uma linha de aprofundamento de ideias exploradas nas sessões presenciais e nas leituras relacionadas com os temas aí explorados, numa perspectiva de perceber as implicações na minha prática, no sentido de a recontextualizar à luz das orientações do Novo Programa.

A ESCRITA

Retive a ideia de que há um espaço que medeia entre o que sinto, o que quero escrever e o que acabo por escrever! Tal fez-me reflectir, pois já tinha pensado que muitas vezes a escrita não consegue acompanhar o nosso pensamento e que é difícil por vezes escrever o que realmente pensamos ou sentimos…

Nesta formação lancei o tema para debate no Fórum “Dificuldades dos alunos na produção de textos” procurando partilhar com os colegas algumas ideias no sentido de proporcionar aos alunos os contextos e condições mais adequados para que possam ESCREVER. Ficaram registadas muitas ideias sobre este tema: escrita com sentido, partir de temas do interesse dos alunos, criar contextos estimulantes, escrever com um objectivo (jornal, correspondência…), escrita livre, em oficina, motivação… todos concordamos que é necessário experimentar situações em que a escrita seja significativa para os alunos, utilizar diferentes recursos, diversificar estratégias…
Mas… na primeira sessão foi reafirmado que é realmente difícil escrever perante uma página em branco, buscar palavras… Apesar de já ter sentido esta dificuldade, nunca tinha reflectido muito sobre o facto de poder ser “partilhada” da forma como o escritor António Lobo Antunes a descreveu. Tinha a ideia de que, apesar de surgirem momentos de falta de inspiração, os escritores e poetas tinham uma relação fácil com a escrita, que escrever era um acto de prazer e nunca um momento quase “penoso” a que assistimos, por vezes, na escola…
Afinal, a Escrita é um processo complexo e esta abordagem na formação levou-me a procurar entender as dificuldades da escrita que atrás referi um cenário mais alargado, que nos remete para as concepções de escrita e sua evolução, para as dificuldades que os próprios professores experimentam, para a necessidade de reequacionar as minhas práticas... Percebo que, para além da procura de ideias para melhorar as propostas de actividades nas aulas, é necessário agora verificar se as minhas práticas estão na direcção do que se pretende. Analisar do ponto de vista do que faço e do que se espera que eu faça à luz do Novo Programa. Como a Escola e eu concebemos a escrita e como actuo…
Esta reflexão será necessariamente um processo que não se esgota neste momento mas que vai merecer um trabalho contínuo. Há medida que for trabalhando e conhecendo melhor o Novo Programa, torna-se inevitável comparar o que ele recomenda com a minha prática e fazer o meu percurso de aproximação às novas orientações. Não sendo um ponto de ruptura com o que fiz até agora relativamente à Escrita, reconheço que há vários aspectos que necessito repensar e que posso melhorar. Compreendi ainda que o Novo Programa vem reforçar as perspectivas que devemos ter e os cuidados necessários para desenvolver o processo de Escrita com os alunos, fundamentando as recomendações apresentadas.
Na realidade, em relação à Competência da Escrita, considero que o estudo/ trabalho que estamos a fazer sobre o Novo Programa constitui uma forma de alertar e promover a reflexão individual e colectiva no sentido de percebermos que há outras estratégias, que é possível descobrir outras formas de conduzir e levar os meus alunos onde quero… Nesta caminhada, antevejo necessariamente alterações, até porque a utilização do Novo Programa permite-nos aceder a informação aliada à Investigação, o que traz conhecimentos positivos a integrar nas nossas práticas. Tenho-me deparado com situações em que sinto que já fiz muito ou quase tudo como docente e a aprendizagem de algumas crianças continua a ser muito limitada. Nestes casos, espero que os contributos de outras Ciências nos possam ajudar a clarificar como a criança aprende… Acredito que o docente deve assumir a sua responsabilidade e procurar diferentes abordagens, mas há situações em que pode sentir-se “sozinho/perdido” se não conseguir enquadrar as suas crenças e acções no que nos dizem as outras Ciências e num contexto mais abrangente que envolve a relação professor-aluno. Esta noção de contexto alarga o âmbito onde se contemplam outras variáveis, o que sem ser com o intuito de atribuir “culpas”, nos pode ajudar a encontrar respostas…
Uma vez que se pretende trabalhar na mira do desenvolvimento de competências, foram exploradas algumas ideias nas sessões quanto à Escrita que, não constituindo propriamente grandes novidades, me fizeram reflectir. Assim, recordou-se que o aluno aprende a escrever, escrevendo, e que aprendizagem da escrita nunca está concluída…
Recordou-se ainda que a criança tem potencialidades e competências, cabendo ao professor ajudar a desenvolvê-las… Para tal, devemos Ensinar, isto é, fazer a ponte entre o conhecimento e o que a criança tem, tendo em conta a componente afectiva, motivacional…
Mas, vimos que Ensinar não é o mesmo que dar aulas e é um facto que no fim da minha aula nem todos aprenderam… Realmente se o aluno não aprendeu, eu não ensinei! Tenho esta consciência e na nossa reflexão entre pares concluímos nem sempre ser possível pôr em prática o ensino individualizado como seria necessário, tendo em conta as características específicas de cada aluno numa turma de 25!! Depois, alegámos dificuldades devido à diversidade de interesses dos alunos, à falta de motivação para a aprendizagem, especialmente da Escrita, e mesmo à falta de vontade de trabalhar que muitos demonstram…
Considero que os argumentos atrás referidos são pertinentes e difíceis de resolver, mas penso que o Novo Programas pode constituir uma chamada de atenção relativamente ao papel do professor e às suas possibilidades de intervenção perante este cenário. Assim, é atribuindo ao professor o papel de gestor Programa, o que lhe permite atender às características da turma na preparação da sua actividade (Anualização), e são apresentadas estratégias que assentam numa lógica processual, permitindo ao professor o acesso a um conjunto de informação que poderá usar para rentabilizar e melhorar a sua prática. Vão certamente continuar a haver de alunos que não conseguimos ENSINAR, mas com orientações renovadas e experimentando novos percursos, podemos aumentar a possibilidade de mais alunos efectivamente conseguirem APRENDER nas nossas aulas!!
È ainda reforçada a ideia de que a criança só aprende quando é significativo para ela, isto é, quando há relação com o que já existe, o que já sabe… Aqui evidencia-se a importância dos Resultados Esperados apresentados no Novo Programa, que orientam o professor quanto à planificação da etapa seguinte e dos Conhecimentos Prévios na construção de Sequências Didácticas.
Apesar de ter procurado diversificar o trabalho que tenho proposto nas minhas aulas quanto às actividades de Escrita, tenho consciência que posso fazer mais e encontrei no Novo Programa e no GIP da Escrita contributos e intenções de escrita variadas que porei certamente em prática. Em alguns casos, são melhorias do que já tenho feito, noutros encontro aspectos mais inovadores e sinto que o importante é mesmo ir experimentando e aprendendo. Penso que a intenção deste trabalho sobre o Novo Programa consiste em ficar com conhecimento significativo para o professor, para que este possa aplicar na sua acção… Cabe-me, a partir do que aprendi sobre os processos de escrita, gerir a informação e desenvolver a minha componente de auto-aprendizagem e auto-regulação.
Assim, ao planificar e organizar uma actividade para desenvolver a competência da Escrita, pretendo questionar se constitui uma proposta à luz do que preconiza o Novo Programa, se está faseada, se contempla a dimensão processual, se convoca outras competências? Terei em atenção que o professor deve acompanhar todo o processo… que para escrever os alunos têm que compreender para depois explicitar e usar… que não é fácil nem linear a transferência da regra estudada para a sua aplicação na prática… que devo propor situações de modo que os alunos necessitem usar as regras da Escrita para as resolver… que é importante criar momentos em que os alunos podem utilizar os seus conhecimentos a partir das necessidades e problemas que a Escrita coloca…
Para concluir, relativamente à importância dada às Etapas da Escrita, é para mim o aspecto que constitui um desafio pôr em prática já no próximo ano lectivo, até porque vou leccionar o 2º ano, e encaro isso como uma oportunidade de começar este percurso com crianças ainda numa fase inicial de produção escrita. Este ano lectivo, trabalhei com o 1º ano e os desafios foram outros… Mas, pela minha experiência em anos anteriores quanto à Produção de Textos, penso que dei menos atenção à etapa da “ Planificação” do que o peso que assume no Novo Programa e vários aspectos relacionados com a etapa da “Revisão” também poderão certamente ser melhorados…

(Continua na próxima mensagem)