domingo, 18 de abril de 2010

REFLEXÃO - Módulo III

O professor…

…não apenas ensina a aprender, mas aprende a ensinar com os seus alunos, na partilha com outros colegas, com as situações vivenciadas, nos espaços de formação…

…tem necessariamente que reflectir sobre a sua prática pedagógica, pois sem isso não há mudança possível em educação. Há a expectativa de que a reflexão seja um instrumento de desenvolvimento do pensamento e da acção.

Nesta reflexão é importante realçar uma vez mais a oportunidade que nos é dada de realizarmos um trabalho crítico e reflexivo sobre as nossas práticas e experiências no ensino do Português, a partir dos temas explorados nas sessões presenciais.
Na minha formação como docente, esta caminhada em busca de renovação/actualização de conhecimentos define-se como uma necessidade de aprender e contactar com diferentes saberes sobre a educação. Tenho ainda possibilidade de conhecer perspectivas e experiências diferentes, de encontrar novos instrumentos/recursos e confrontá-los... A partir daí, de regresso à sala de aula, acontece necessariamente alguma mudança, que acredito estar a traduzir-se de forma positiva na minha prática diária. Por outro lado, algumas recomendações e ideias que foram exploradas levaram-me a reconhecer que existem ainda aspectos em que preciso melhorar, em termos de selecção de estratégias e planificação de actividades mais centradas no desenvolvimento das competências.
É de registar que, perante os conteúdos teórico-práticos deste curso, repensar algumas opções assumiu-se como uma necessidade… Assim, tenho procurado mobilizar o que aprendi nas minhas aulas e esta constitui, sem dúvida, uma mais-valia da formação. Os temas abordados e o conhecimento experimental revelaram-se um valor positivo e orientado para a prática, reflectindo-se na forma como penso e actuo na sala de aula. Segundo Perrenoud, “a postura e as competências reflexivas não garantem nada; contudo ajudam a analisar os dilemas, a construir escolhas e a assumi-las” (PERRENOUD, 2002).
Considero que esta formação permite-me ainda desenvolver destrezas práticas no que respeita à capacidade de relacionar a análise com a prática, com os fins e com os meios. Esta indagação ajuda-me a identificar estratégias para melhorar o meu desempenho e introduz um compromisso de mudança e de aperfeiçoamento. Desenvolvem-se, igualmente, destrezas de comunicação, pois enquanto professora, neste espaço de formação comunico e partilho ideias com outros colegas, o que evidencia a importância das actividades de trabalho e de discussão em grupo.
O processo de reflexão, suscitado no âmbito da formação, conduziu-me necessariamente a momentos em que verifico não conseguir fazer tudo o que gostaria ou o que acredito ser o mais adequado/recomendável para a minha turma ou para alguns alunos. Na realidade, há situações em que só podemos fazer o melhor que conseguimos. Tal, nem sempre é o que consideramos ser o ideal ou necessário para aquelas crianças… Neste sentido, recordo um pensamento de Sócrates: "Deves ter serenidade para aceitares as coisas que não podes mudar, coragem para mudares aquilo de que és capaz e sabedoria para veres a diferença."

LEITURA

Ler é também imaginar sem recorrer à imagem, o que representa um exercício mental rico e activo. Desde o início da idade escolar, as crianças ao serem expostas constantemente a novas palavras por via oral ou através de leitura compreensiva, enriquecem o seu vocabulário e o conhecimento do mundo. Tal exige a nossa atenção como docentes no sentido de procurarmos desenvolver o gosto pela leitura e proporcionar o treino continuado que esta exige.
Retive a ideia de que devemos escolher um texto ou um livro com um objectivo preciso e explicar aos alunos o porquê da sua utilização de forma clara, ou seja, deve ficar claro um propósito. Os textos escolhidos devem apresentar desafios para os alunos, ser significativos e proporcionar uma aprendizagem. Tal obriga a um trabalho de planificação atento e um cuidado redobrado na escolha do Corpus Textual.
O que penso que acontece, na maioria das vezes, é que nós, enquanto docentes do 1º ano, estamos tão preocupados que eles aprendam as letras, as palavras e depois as frases que nos esquecemos um pouco das histórias a que estão muitas vezes habituados. É este também um momento em que pode ocorrer, muitas vezes, dificuldades na motivação para a leitura, principalmente no caso das crianças que revelam dificuldades de aprendizagem. Assim, as “chamadas de atenção” sobre a importância da abordagem da leitura nos primeiros anos de ensino e o recordar de várias estratégias discutidas na formação, revelaram-se determinantes no meu trabalho. Apesar de, em anos anteriores já ter leccionado o 1º ano e ter desenvolvido várias actividades referidas no novo programa, a verdade é que ao longo deste ano procurei implementar ou melhorar algumas estratégias para desenvolver a competência da Leitura. Considero que, além do “ensinar a ler”, preocupei-me mais em prever e planificar actividades de leitura diversificadas e orientadas para promover o gosto pela leitura. Assim, como estão ainda a aprender a ler, eu li mais para os alunos, envolvi as famílias na leitura de livros e pequenas histórias, recontadas pelos alunos depois na aula, convidei pais e avós para virem à sala ler… Estas e outras estratégias, não sendo propriamente uma novidade na minha prática, foram utilizadas de forma mais sistemática e planificadas no trabalho integrado das várias competências. Neste aspecto, admito que investi na articulação com actividades de desenvolvimento de competências da Compreensão e Expressão do Oral de forma mais consistente do que fazia anteriormente. Além disso, consegui um maior equilíbrio entre a minha preocupação de “ensinar a ler” e a participação da turma em situações mais diversificadas de Leitura.
Senti necessidade de ter em consideração o ambiente familiar dos alunos, pois alguns não têm livros em casa (poucos, felizmente) e criou-se a possibilidade de levar livros da escola para leitura em família. Tendo o cuidado de contemplar a diversidade cultural dos ambientes familiares a que as crianças pertencem e procurando efectuar uma adequada diferenciação pedagógica, procuro que a escola seja um espaço de valorização da leitura e em que todos têm igual acesso aos livros.
No início da sessão, ao abordarmos a competência da Leitura, foi referido que o novo Programa não traz propriamente muitas novidades, sendo importante sensibilizar para a sua importância. Procurou-se criar e dar linhas orientadoras no Programa para actividades mais integradoras e mais desafiadoras, para que o aluno esteja motivado e faça a progressão prevista. Recordo que as palavras “diversos” e “diversificar” são bastante repetidas no Programa e têm que nortear as nossas opções na escolha dos textos e livros.
Uma ideia debatida na formação tem a ver com a planificação/preparação de actividades de leitura tendo em conta o texto, o contexto e o leitor. Na realidade, a aplicação destes princípios surge naturalmente devido à heterogeneidade dos grupos no que concerne às aprendizagens. No entanto, com 21 alunos de 6 anos, com níveis de desempenho diferentes e alguns com necessidade de apoio individualizado para realizar a maioria das tarefas propostas, torna-se bastante complicado conseguir implementar a diferenciação necessária. Ainda estão a ganhar autonomia e preciso fazer um acompanhamento próximo do seu trabalho, pelo que a planificação de diferentes actividades a desenvolver ao mesmo tempo têm sido difícil. Foi dito que se estão todos a fazer o mesmo, não estamos a valorizar os leitores porque têm capacidades diferentes e concordo, mas senti algumas limitações na minha capacidade de resposta em relação a algumas estratégias que gostaria de ter explorado. Houve actividades em que foi adaptado o grau de dificuldade, outros momentos em que sobre o mesmo texto foram solicitados trabalhos diferentes, trabalho a pares… A leitura de livros adequados ao nível etário dos alunos, em conjunto e em voz alta, assumindo a representação de personagens referenciados nos livros, revelou fortes potencialidades de motivação, suscitando uma diversidade de actividades e discussões subsequentes.
Verifico que, quando começamos a examinar nossas próprias práticas, podemos detectar algumas “contradições” entre o que pensamos/dizemos e como agimos. O surgimento destas diferenças, questionamentos ou dúvidas, faz indagar sobre os motivos e o que podemos fazer para atenuar algum desfasamento entre o que conhecemos e o que fazemos.
Em relação aos trabalhos práticos desenvolvidos, considero que foram bastante enriquecedoras e serviram para evidenciar a importância de estarmos num mesmo espaço docentes dos três ciclos. Por exemplo, a partir da Leitura dos mesmos textos foram apresentadas diferentes sugestões de actividades para cada ciclo de ensino, tendo em conta a progressão necessária no grau de dificuldade da tarefa proposta. Esta é uma forma de evidenciar que o ensino não deve ser encarado de forma compartimentada, podendo o mesmo texto ser utilizado por alunos em diferentes contextos de aprendizagem, partindo de abordagens diversificadas e preparadas com criatividade…

SEQUÊNCIAS DIDÁCTICAS

São actividades ligadas entre si, planeadas para desenvolver competências e ensinar um conteúdo, etapa por etapa; são organizadas de acordo com os objectivos que o professor pretende alcançar com os seus alunos e envolvendo sempre actividades de aprendizagem e avaliação. Podem e devem ser usadas em qualquer disciplina ou conteúdo, pois auxiliam o professor a organizar o trabalho na sala de aula de forma gradual, partindo de níveis de conhecimento que os alunos já dominam para chegar aos resultados esperados, de forma progressiva. Uma vantagem desse tipo de trabalho é que leitura, escrita, oralidade e aspectos gramaticais são trabalhados em conjunto, o que faz mais sentido para quem aprende. Penso que nós, professores, já fazemos isso, talvez sem utilizar esta terminologia e sem a continuidade agora prevista.
Gostaria de registar que achei bastante interessante a construção do roteiro de sequência didáctica. Foi um dos aspectos em que constatei o quanto a exploração de situações e exemplos práticos nos pode ajudar a “desmistificar” alguns aspectos que à partida nos parecem difíceis. Penso que, de uma maneira geral, as sequências apresentadas estavam bem conseguidas e previam aulas interessantes, em que os alunos podiam desenvolver várias competências. Reconheci a importância de utilizarmos esta metodologia em termos de planificação e apercebi-me que será esse o caminho num futuro próximo… Mas, admito que, trabalhando em mono docência no 1º ciclo, ainda tenho dificuldades e algumas dúvidas sobre a sua utilização ao longo do ano. Há a competência foco a trabalhar e outras competências da área de Português numa determinada sequência didáctica, mas é importante também articular com conteúdos de outras áreas, com os temas a desenvolver no Plano Anual de Actividades da escola, com alguns questões levantadas pela turma e que constam no Projecto Curricular de Turma, com dias comemorativos, épocas festivas… O trabalho de construir sequências didácticas exige um tempo de reflexão e avaliação e implica o conhecimento específico da turma. Adaptar uma mesma sequência a uma turma com diferentes níveis de aprendizagem, requer uma grande capacidade de organização.
Sinto que construir ao longo do ano as referidas sequências é um trabalho que não se afigura fácil, mas são os desafios que nos movem… E também é verdade que uma vez elaborada, a sequência didáctica é uma boa orientação e facilita o nosso trabalho num determinado período de tempo. Desta forma, vamos ter que investir na planificação e colher os benefícios desse trabalho!

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